segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Chão

Eu estarei aqui, quando nada mais restar além do pó. Eu estarei aqui, quando os irmãos matarem seus irmãos. Eu estarei aqui, quando o choro das mulheres sobrepujar o grito dos guerreiros. Eu não esmoecerei quando o ar sulfúrico for insuportável. Eu não desistirei quando todos virarem os olhos. Eu permanecerei, quando lhe for desagradável pensar minha presença.


Eu estarei aqui, quando tua lama inundar os pilares da Terra. Eu estarei aqui, quando houver medo de encarar meus olhos. Eu estarei aqui, quando recear ouvir minhas palavras. Eu estarei aqui, quando meus versos forem pesados para tuas costas delicadas. Eu permanecerei, após minha peste corroer tua alma. Eu resistirei, enquanto meu veneno contamina tua poesia. Eu resistirei, quando até mesmo tua sombra não possuir coragem para permanecer ao meu lado. Eu não desistirei, quando o vento deixar de sussurrar o meu nome. Eu não desistirei, quando minhas fontes secarem de poesia. Eu não desistirei, quando toda minha voz parecer uma mentira. Eu não desistirei.
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Eu estarei aqui.
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Eu permanecerei.
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Enraizado.
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Uma árvore estéril.

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