segunda-feira, 15 de setembro de 2008

triste



O sofredor é apenas um egoísta. Um artista malfadado, um escultor roto que vê em si mesmo sua obra de arte. A estética que apela ao corpo, o sublime que acalenta a alma confunde-se com o sentimento; mescla-se com o elemento do espírito - alimenta-se, o pobre diabo, de exterior e interior. Alegria, tristeza... estados etéreos e voláteis de uma arte que não se vê; se sente. Um jubiloso ignorante apenas deseja saborear as migalhas de uma obra invisível. Um tolo feliz quer somente apreciar o opus que se apresenta ao espírito: quer receber, quer derramar seu prazer em alegria ao que lhe dá o mundo. Não é assim para o que sofre. Este é um invejoso que deseja tudo para si. Deseja ser o espectador e se refastelar em sua amargura; deseja ser o artista, aquele que, com sensibilidade sem igual, pinta o mais melancólico dos quadros; deseja ser ainda, esse incansável egoísta, a própria arte - acredita que suas lágrimas são o mais puro estado da tristeza, e que mais nada resta em seu corpo cansado além do rancor e da desesperança. Acredita, o infeliz, estar consumido por completo. No mundo, por certo, não deve haver alguém mais inundado de dor e sofrimento.
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Tristeza alimenta-se de tristeza. Lágrimas movem-se pelo clamor da auto-piedade. Soluço tropeça no orgulho da mediocridade. Sentimento inferior, queima e queima. A alma é consumida, resta um corpo oco, sem vida, sem motivação, mergulhado no arquetípico sofrimento do incompreendido.
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Egoísta. Arte. Artista.

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