sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Consciência

Não há outro caminho senão o da Providência. Não existe um lugar para o amigo da sabedoria, essa pobre criatura, martirizada pela própria vontade, estóica em sua auto-piedade, incansável em seu exílio voluntário. De que me adianta servir esta Deusa tão distante, me ajoelhar diante desse espectro de conhecimento, se o preço é minha própria alma? Frio pacto sinistro, cega vontade ignorante! Trocar um simples momento de felicidade pela consciência excitada. Trocar o afago humilde pela filosofia da vida. Esclarecer-me, eis a questão. E assim vou, afastando-me, solitário, da luz. Recuso a benção da inocência, enquanto indago sobre as sombras na caverna, confinado na triste realidade, falsa realidade, paradoxo de uma existência real, imaginária, sonhadora, voadora... sem asas. Lanço-me, de corpo em alma, nessa empreitada suicida, do conhecimento e da reflexão. Lanço-me, sem corpo e sem alma. Abro mão do que me resta; sou apenas resignação diante dessa força maior, esse chamado diabólico que nunca cessa. Minha fé é inabalével, nessa mentira que escolhi acreditar. Sou eu, o ratinho do subterrâneo, o verme sem nome que se debate com a própria mente, que indaga sobre o inexplicável e teme, com toda a covardia que lhe resta, o simples eco da espontaneidade. Eu, ratinho do subterrâneo, escondido demais, temeroso demais, racional demais, consciente demais; eu, herói anônimo desse limbo de poetas, estou fadado ao fracasso.