sábado, 29 de março de 2008

Sussurro


Que é que ouço? Já não sei se são vozes amigas ou sussurros dos sepultos...

quinta-feira, 13 de março de 2008

ânsia


Agressores!
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Quem lhes concedeu o poder dos dois gládios, falsos profetas? Será que não podem sequer sentir o cheiro da vergonha que escorre por suas pernas? Tamanha soberba... falta-lhes, meus abutres, o bom senso de um ser humano. Que som nauseante, este do seu farfalhar pelo chão. Arrastam-se, arrastam-se, seguem esse túnel e julgam viver uma mentira verdade. Sentem prazer com essa luxúria, regada à irresponsabilidade e carniça.
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Mantenham vossa carcaça bem longe de mim!
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Falta-lhes a consciência. Será esse o motivo de vossa felicidade? Alegres aves de rapina, negras, voando com suas garras sujas, prontas para agarrar a próxima oportunidade de humilhação. Embriaguem-se, enquanto as formigas constroem as Pirâmides. Mas fiquem longe de mim, abutres carniceiros! Não me presto mais à vosso Banquete sinistro.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Longe


pater, si uis, transfer calicem istem a me.
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Pai, se o quiseres, afasta para longe de mim este Cálice. Eu não quero provar do teu veneno. Eu estou cansado, mesmo que ainda longe do Calvário. Minha uia crucis não desponta, mas não sou tão forte quanto o Filho de um Homem. Ainda sou humano, ainda peco, ainda sonho, ainda desejo. Ainda sou um menino, e quem é que vai ouvir minhas preces? Em que receptáculo repousarão minhas lágrimas?
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As coisas sempre são mais simples do que imagina-se. Problemas tem solução. Tudo é fácil. Tudo é fácil quando o cravo não lacera-lhe a carne. Tudo é simples quando o momento não se transforma numa Apoteóse, um Universo infinito de sombra e pessimismo. E, ainda que dure por um segundo, é por toda uma eternidade. Afinal, quem é que conta os minutos para a alma? Quem é que ampara um coração que se propõe, assim, inocentemente altruísta??
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Não é do repouso que descansa minha mente. Não é da felicidade que se compadece meu espírito. Falta-me a base, minha própria. Apenas o chão, aquele que não sedimentei quando, vorazmente, subi as Torres de uma certa maturidade. Não é de se levar a sério, afinal, uma explosão de choramingos tolos. Que são eles, senão, esta própria estrutura de força e coragem tentando, timidamente, descansar do peso titânico que suportam?
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Não há problema. Tudo está bem. Ainda que as palavras sejam ásperas, tudo está bem. Ainda que a Coroa de Espinhos perfure fundo, tudo está bem...
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Ainda que o ar me falte...
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tudo está bem.

domingo, 2 de março de 2008

Ventre


Encarrego-me do que não me convém. Mascaro-me com proezas, vícios e virtudes destes que me cercam, e, com garbo, caminho feito um vulto indistinto, uma disforme esperança de resposta e esclarecimento. Não encaro minha própria sina - está ali, meu auto-engano, como uma criança num ventre oco. Quase ouço trompetas angelicais anunciarem uma missão divina e gloriosa, apenas para que, em mim, não ecoe uma nota sequer de responsabilidade e iniciativa.
E como é que sei onde começa minha alma e onde termina a do outro?
Não sei acompanhar este circulo. Corro atrás da própria cauda... canto este desígnio e reflito sobre minha empatia ressonante: lá se vai a arrogância nebulando a covardia.
Que é que carrego, então, aqui comigo?
Diante de um mundo tão facilmente reconhecivel, não posso comprender a mim mesmo. Não ouso. Falta-me a coragem para olhar no fundo deste poço; falta-me capacidade para admitir que minha criança ainda chora.
Que é que eu faço, então, se ainda tenho medo do escuro?