sábado, 29 de setembro de 2007

(des)crença

O martelo de ferro, cólera de um Deus vingativo, pesa como o ressentimento sobre a alma desses tão pretensos conhecedores de nossa Natureza. E que Natureza, afinal, é essa? Por quem lhes foi concedida a autoridade para tecer os ditames da verdade? Que se derrubem os pedestais de mármore desses Falsos Profetas! Ditadores de mentes, tolos sofistas que acreditam (des)construir a podridão! Tomados pela Loucura, não aquela que move a alegria e o amor, mas aquela que Erasmo apregoa sobre esses monges ridículos e absurdos. Queimam as crenças, crendo, eles próprios, no valor da descrença absoluta. Negam nossa História, negam o valor do Leviatã do passado, apenas para impor sua amargura, como uma Coroa, sobre toda a raça humana. Que queimem na Fogueira do esquecimento, estes que se acham na posição de julgar, sem ao mesmo crer na espada da justiça! Que pendurem no Cadafalso da mediocridade, estes que se gabam de, racionalmente, serem irracionais. Que sumam como sombras fracassadas, estes cegos que negam o paradoxo, que negam a História...




segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Sinfônia



O regente dessa Sinfônia soturna é o próprio Pêndulo da Vida, que dança num compasso sem harmonia, dissonante ante qualquer beleza. Em cada badalada, um soluço inconstante, um grito de (des)esperança voluntária, um choramingo sem qualquer piedade. A cada onda, um abalo nos mais profundos alicerces dessa alma já em frangalhos, tão cansada de juntar seus trapos, tão exausta de olhar para frente. Não há, nessa Orquestra terrível, espaço para que flua a tranquilidade ignorante. Não cultivam felicidade, esses agentes moribundos, corcundas arbitrários de uma Catedral moribunda, assustadora, fria, concreta. E eu, deito-me à sua sombra, embalado pelo cantar exaultado dessa melodia de desassossego, recolhido num pesadelo de voz grave e aspecto decrépito. Um lamento aqui, uma gota de apatia ali, e assim segue essa música que não me deixa, jamais, fechar os olhos.

domingo, 9 de setembro de 2007

Lágrimas

Alguns foram agraciados com o dom da felicidade. Outros, com o dom da consicência. Encaixo-me no limiar, entre a plena fantasia infantil, e o pesadelo realista, nublado pela núvem da infelicidade e da incerteza. Cego-me, se preciso. Prefiro sonhar com esse Elísio, enquanto esqueço, por um momento fugaz, o hercúleo esforço que me exige essa simples tarefa de viver. Fragmento por fragmento, construo a presente esperança do futuro, enquanto nego a presente angustia do presente. Não assumo compromissos, e temo pelo julgamento quando o faço. A infalível empunhadura da moral não perdoa meus lapsos. Sou julgado, eternamente, e condenado com o conhecimento interior, interno, próprio, egoísta e esquizofrênico. Meu calvário, abraço com ardor. Fico sozinho, não quero que minha aura famigerada contamine a ignorância virginal. Crucificado, no alto, longe da felicidade: não escolheria outro lugar para o meu repouso, d'onde vejo essa harmoniosa vivência, e compreendo minha inaptidão. Meu flagelo lembra-me desse meu estado auto-imposto, dessa minha servidão voluntária. Sou o Michelet de um outro tempo. Alguns foram agraciados com o dom da felicidade. Outros, com o dom da consciência. Eu, afastado do amor e da Providência, fui agraciado com outro dom. A mim, foi concedido o dom das lágrimas.