domingo, 21 de outubro de 2007

Sintaxe


Náusea. Descrevo-te meu afeto por vosso sentimentalismo. Digo-lhe o que penso sobre vosso olhar, sobra vossa postura, tão digna e tão sincera de encarar a vida. Louvados sejam os Deuses Imortais que, em momento de incauculável sabedoria, pariram no mundo criatura tão magistralmente dotada de sensibilidade e carinho. Rogo, todas as noites, diante do leito, por receber vossas pérolas da mais profunda (des)humanidade. Que bela demonstração reservai-nos, ó bela Esmeralda suja de lama. Sem cálculo e sem chão, prosseguieis com vosso Réquiem existencial, entoando estas melodias tão belas aos tolos, tão falsas aos pobres diabos que beberam desse mel azedo. Sorte temos, espectadores do vosso show grotesco. Sorte de baixar os olhos sobre tão inconsequente inverdade. Jamais diria mentira, pois está aí uma qualificação que não existe em vosso vocabulário da vida. Repousem, almas sem dono, no interior dessa bela árvore oca. Afaguem-se, corpos sem alma, nesse belo ninho de fadas, nesse recanto de dessassossego e podridão. Respiramos o ar de vossa carniça. Voluntariamente aspiramos vossa pele ensebada pela sujeira de vossa vergonha. Vai! Não desisties! Deslumbramo-nos com vossa orquestra patética, com vossas frases em belas linguas, com vossas mais sinceras verdades mentirosas. Confundiei-nos com aqueles de vossa laia. Prosseguieis, por favor, com vosso sorriso digno do mais baixo dos palhaços.

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