sábado, 20 de outubro de 2007

(in)tradução

Já é tempo. Meus joelhos tocam o chão, com o baque surdo que só um desistente poderia ouvir. Minha lástima ascende, feito a fumaça de um antigo relicário sagrado, dedicado a um antigo Deus, já esquecido. Todas essas luzes, essa mensagem que vem do mais alto ponto da minha mente, já não me significa nada. Quem poderia, afinal, traduzir o desconhecido dialeto de uma outra era, de um tempo de sentimento e felicidade? Sequer consigo ser direto; não atinjo o limiar do poeta, nem do profeta. Continuo perdido no limbo das palavras, sem ambição de que essa fina linha de literatura me mantenha no Panteão que não me pertence. Falo, falo e falo. Não ouvem nem os surdos, nem os mudos. São discursos para poucos. Talvez, para nenhum. Essa lingua apenas eu conheço, e transcendo em meio árvores e montanhas. Falo para os passarinhos, sem que uma auréola legitime minha loucura. Falo palavras de instrospecção, sem que o tímido se conforte. Falo aqui, sozinho, para mim e mais ninguém. Não peço ajuda para construir meu templo, e nada pode tocar minha fé. Ela está aí, erigida e implacável, dedicada, toda ela, aos Deuses sem nome, esses invisíveis medalhões de santidade, que habitam lugar algum, senão minha própria alma.

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