domingo, 17 de junho de 2007

Disforme


Escolhendo palavras com cuidado, temendo cada passo dado. O chão é de vidro, escorregadio e árido. São essas paredes que se vão fechando, é esse claustro misantrópico que me cobre, feito um manto de apatia. Imagens cinzas que vão passando e passando... falta brilho nessa trilha que me prende. As algemas, eu mesmo coloquei. Se clamo por liberdade, nada poderia soar mais falso. É seguro aqui dentro, longe desse assustador mundo de afeto. A melodia é lenta, o tempo não passa. Meu invólucro perturbador, de sangue e rosas... Tocam-me, apenas, as sombras do passado. Falo esse dialeto que nunca existiu, com companheiros sem forma e sem ambição, pesados com a própria (in)existência. Sinto saudades do que não vi, nostalgia do que não vivi. Desejo beijar esse sonho platônico, de formas embaçadas e impossíveis. E, debaixo de minha árvore turva e disforme, eu me sento. Rio aos prantos. Olho passar o que não passa, aceno para o que não está ali, converso com o vento que não bate. E, assim, vou caindo na minha própria armadilha.

Nenhum comentário: