domingo, 10 de junho de 2007

Refúgio


Se evito o caminho do sentimento, é porque jamais soube lidar com esse fogo do calor humano. Fujo à simples sombra do carinho, enquanto levanto minha fortaleza taciturna. Concedo-me a propriedade da solidão assistida, e me apraz o sabor amargo da indiferença. Por vezes provei um veneno rápido, tão rubro quanto o próprio amor, e ainda esfrego as sequelas do meu antídoto natural. Torno o rosto diante da labareda de emoções, e não me atrevo a tocar nessa chama terrível. Obrigo-me a observar, de longe, o brilho impossível de pedras preciosas tão cobiçadas. Esmeraldas. Rubis. Sáfiras. Jóias esculpidas por Vênus em pessoa, destinadas ao prazer de um qualquer alheio, submisso ao peso do conformismo, preso numa charneca de mediocridade, mas possuidor desse dom da empatia. Minhas mãos não suportam o calor divíno, e não ouso a macular tão virginal beleza. Minhas asas não resistem a tal brilho. E, caverna escura, é lá onde encontro meu refúgio.

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