domingo, 5 de outubro de 2008

Mar


Borrifa água salgada, enquanto a cabeça, erguida diante do vento e da tempestade, contempla o infinito negro e azul. Gelo e solidão. O grito das sirenes, em sua rocha distante, é como o sino da Fortuna: flui sem fim, sem rumo, na imensidão fria. Flutuar na superfície deste mar bravio não é diferente do que padecer em sua profundeza. Uma sepultura aberta, um túmulo que não conhece som algum. Silêncio. Tormenta. O trovão é mudo. Céu das areias, limite do mundo, fronteira da eternidade. Alerta, as mãos no leme e os olhos no horizonte. Além da pedra de Cila, além da Ultima Thüle, onde pilares maiores do que o sonho sustentam o firmamento; onde as estrelas colidem, onde os astros perseguem o negrume invisível; onde termina o universo, onde despenca a derradeira cascata do mundo; onde a vida condensa-se numa gota d'água. Lá navega o marinheiro, solitário. No casco, um rosto gasto, seios de uma ninfa desconhecida. O nome de sua nave, já esquecido. Estrela vespertina. Para sempre solitário, navega o marinheiro; para sempre, navega o marinheiro solitário.

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