quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Buraco

Há um buraco negro. Ele nasceu dentro do meu peito, um aborto do meu esforço. Ele é voraz, incansável, implacável. Nada lhe escapa: todos os sentimentos, as cores, os gostos, os cheiros, tudo torna-se alimento indistinto, devorável, descartável. Sua presença nefasta eclipsa minha alma, pequeno pavio de amor e impulso, e torna anêmico meu espírito silencioso. Vórtice sulfúrico, vau de dessassossego. Irradia sua fome infinita pelos meus mares, transforma minha mente num Odisseu cego, num Sansão tonsurado.

.

Nada me sobra, se a tudo ele devora. Meus amigos, meus amores, meus tesouros. Tudo deve ser destruido em seu centro assassíno. Fera indomável, ruge letargia, exala apatia; ordena, feito um déspota fervoroso, que o mundo curve-se diante de sua majestade, negra e infinita, faminta e cruel.

.

Minha própria sombra canina. Minha fera particular. Meu Hyde de estimação. Minha sina.

Nenhum comentário: