domingo, 18 de novembro de 2007

repetição


Nem sob o pó de Morfeu meu descanso é garantido. Tocam, sem fim, os sinos da memória, num badalar estridente e cacofônico, feito o grito desajeitado da decepção. Não há palavra de um bardo ou página de um tomo que me levem ao estado de graça. Minha catarse ajeita-se, distante, num ninho de espinhos inantingível. Pedir pela minha negação é como implorar para que o Sol não nasça, ou que as ondas não se arrebentem numa rocha distante. Nem Vênus, nem Clio ou suas irmãs, nem a mais bela das Esmeraldas me oferecem outra estrada. Meus olhos, sempre abertos, como dois guardiões desajeitados, mais parecem algozes da alma, carrascos tiranos, indecisos entre as torturas oferecidas ao Pária que se prostra nestas janelas. Não tenho capacidade para distinguiar a que se deve a consciência. Clamo ao deuses, em dúvida; uma dádiva, um presente angelical, ou uma cruz, pesada e punitiva? Sequer consigo alterar minhas palavras. Meu pranto se repete, incessantemente. Repete-se, enquanto meus dias parecem retroceder, num caleidoscópio confuso e nauseante. Nenhum detalhe passa desapercebido, nenhum juramento passa sem julgamento, nenhum corpo passa sem meu veneno mordaz. Nada é novo, e nada tem o doce cheiro da curiosidade. Uma consciência quase onipotente; uma grande lente, que tudo sabe e tudo vê. Sem descanso. Exaustiva e fatigante... sem descanso.

Um comentário:

Anônimo disse...

Repete-se, enquanto meus dias parecem retroceder, num caleidoscópio confuso e nauseante.



eu amo essas metáforas.