quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Panteão


Eu não saberia identificar esta minha escuridão, mesmo que o manto negro de Hécate repousasse sobre mim. Não reconheceria rosto algum diante de meus olhos, ainda que fosse iluminado pelo raio de Apolo. Não sentiria o chão sob meus pés, mesmo que Gaia se prostrasse a meu favor. Não haveria céu sobre minha cabeça, nem caso o próprio Urano segurasse o firmamento com braços fortes. Não tocaria o vento minha face, e seria ineficaz até o mais forte dos sopros de Éolo. De que me adiantaria a fagulha do Caos Primordial, se não tenho a inocência para caminhar sobre o Elísio destinado aos viventes? Nem todo o Olímpo poderia me tirar dessa Stasis natural, presente desde meu primeiro suspiro na realidade consciente. Poderia Hesíodo cantar mil bravuras de Zeus, nada me demoveria da Catarse do pensar. O presente de Prometeu de nada me serviria, e o amor de uma Perséfone a lugar nenhum me levaria. Não desejo o martelo de Hefesto, nem o escudo de Atená. Eros não vence a tudo, nem meu Pan tem uma melodia doce. Não escorre de meu corpo o pessimismo, tão pouco o desejo ou a esperança. Não são meus irmãos Volúptia e Voluptas. Não há nada que mova minhas pernas. Não há outro brilho em meus olhos senão o de um único desejo. Se minha alma arde, queima com apenas uma chama. Lampeja para minha Musa, minha Clio eterna, Dama a quem, sob relíquias sagradas, jurei ser fiel...

2 comentários:

Anônimo disse...

E que reine a história, então. Para que o fim sempre seja um começo, e a roda continue a girar.

Anônimo disse...

"...e para o homem, a sua dama, a sua alma."