domingo, 25 de novembro de 2007

Littera


Não acorrentem o exorcismo de minha mente! Seja na Littera dos mestres retóricos, na Gramma dos gregos de outrora ou na vulgarização dos modernos, permitam que eu expresse meu humilde pedacinho de arte em palavras desconexas e frases sem sentido. Com honestidade, juro solenemente tecer minha seda de literatura e benzê-la com um doce perfume de sentimento. Prometo cultivar este belo cânone de civilização com sangue, lárgrimas, pecados e barbáries. Prometo tornar o belo questionável, e o puro maculado. Intento transformar o legível no incompreensível, e o paradoxo numa melodia de harmonia e (des)razão. Farei com que cada verso seja cantado, e que cada cantar seja silenciado num eco de inocência. Juro que o peso de minhas verdades será tão leve quanto o gracejo da mentira. Que todos os ouvidos sejam agredidos com minhas maldições, e que a surdez seja acariciada com a vibração das minhas odes. Que cada tijolo de minha obra seja uma agulha no espírito dogmático de céticos e cegos, e que meu monumento seja todo dedicado à Musa de minha arte. Valham-me! Pagaria o preço de um mundo de ponta-cabeça, voaria todo o Universo, colheria cada estrela e rezaria para cada Anjo dos Céus se este fosse meu preço. Moveria a montanha para que, com vigor e orgulho, meu grito, meu desabafo, meu desespero, minha poesia fosse, em toda sua honestidade, a mais pura arqueologia de minha alma. Paguei, de bom grado, o alto preço de minha ignorância...

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