Alguns foram agraciados com o dom da felicidade. Outros, com o dom da consicência. Encaixo-me no limiar, entre a plena fantasia infantil, e o pesadelo realista, nublado pela núvem da infelicidade e da incerteza. Cego-me, se preciso. Prefiro sonhar com esse Elísio, enquanto esqueço, por um momento fugaz, o hercúleo esforço que me exige essa simples tarefa de viver. Fragmento por fragmento, construo a presente esperança do futuro, enquanto nego a presente angustia do presente. Não assumo compromissos, e temo pelo julgamento quando o faço. A infalível empunhadura da moral não perdoa meus lapsos. Sou julgado, eternamente, e condenado com o conhecimento interior, interno, próprio, egoísta e esquizofrênico. Meu calvário, abraço com ardor. Fico sozinho, não quero que minha aura famigerada contamine a ignorância virginal. Crucificado, no alto, longe da felicidade: não escolheria outro lugar para o meu repouso, d'onde vejo essa harmoniosa vivência, e compreendo minha inaptidão. Meu flagelo lembra-me desse meu estado auto-imposto, dessa minha servidão voluntária. Sou o Michelet de um outro tempo. Alguns foram agraciados com o dom da felicidade. Outros, com o dom da consciência. Eu, afastado do amor e da Providência, fui agraciado com outro dom. A mim, foi concedido o dom das lágrimas.
domingo, 9 de setembro de 2007
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3 comentários:
Sou julgado, eternamente, e condenado com o conhecimento interior, interno, próprio, egoísta e esquizofrênico.
eu também
A mim, foi concedido o dom das lágrimas.
(A mim também)
A muito não nos falamos. Sinto falta.
Posso não conhecer-te,mas vendo que é assim por escolha,está bem de espírito,não?
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