domingo, 13 de maio de 2007

Atlas

Na pétrea estátua eu sou representado. Com a frieza de uma imagem boreal, livre de toda a infecção calorosa da loucura. Acima de Midas, acima de Herodes e dos filósofos; acima de Zéfiro e de Vênus, eu me prostro nos cumes Olímpicos da austeridade, contemplando, sem emoção, as rajadas elétricas que castigam a felicidade mundana. Com o olhar gelado dos altos lagos, e com o toque seco da solidão amargurada, eu me cerco por cravos pontudos, de aspecto ameaçador. Não me encaixo na descrição de Erasmo, fujo à ilha de Morus. Minha Cidade do Sol é inabitada. Minhas Repúblicas caíram sob a marcha firme do ressentimento. E eu continuo perambulando por corredores longos e terríveis, ouvindo somente o eco dos meus passos, escapando a todo o contato, evitando minha própria sombra. Fujo de Cocanha. Tanta abundancia me incomoda. Esse carinho não me pertence. O afeto escorre como areia sob minhas mãos. Minha morada não possui espaço para mais de uma alma. Aqui, meus filhos, o som é silencioso. Tal qual Atlas, este é o fardo que me voluntariei a carregar.

Um comentário:

Ariane disse...

Mas então vamos para Pasárgada :P