domingo, 2 de novembro de 2008

Mundo


A rotina era monocromática, infectada por fumaça e pouco caso. Os corredores eram (des)coloridos de antipáticos tons de cinza; sob um teto raivoso, repleto de tormenta e decadência, pairava uma onipresente sombra de consciência, desvelando o caos e sussurrando, aos berros, que nada daquilo fazia sentido, era a mais fria e simples seqüencia de acasos despropositados.
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- Não há ninguém aqui para você. Teus passos seguem as ondas do não-existe.

.Prédios escuros cresciam infinitos, e escondiam seus cumes sob colossais núvens negras. Em cada arranha-céu, um milhão de janelas cegas, com espectros contemplando suas próprias misérias, com olhos vazios e pensamentos egoístas. Tudo aquilo não passava de uma edificação amoral, que mentia sobre sua própria existência e que, em incoerência, acreditava em si mesma. Retumbava nas calçadas sujas o eco do escárnio gritado pelos deuses e pelos monstros. Ruas tortuosas, cruzadas à batuta do acaso;
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- Não há significado. Mentira. Não há significado. Mentira. Não há nada. Nada. Nada.
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Código. Ética. Moral. Todo tipo de sujeira e mentira corria por valas abertas, fedendo o odor amargo da conveniência e do descaso. Falta cor, falta coragem, falta gente. Quem deixou as coisas neste estado? Quem foi a criança que caiu no próprio conto?
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Fadiga.
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Fadiga.
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Que lugar é este, afinal? Tudo convergia num mesmo centro, um buraco esquecido enfeitado com uma estátua suja e quebrada, sem braços e sem cabeça. Monumento de memória inexistente.
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Inexistente.
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Distopia solitária e pessoal. Não é que falta vontade, apenas sobra apatia.


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