segunda-feira, 10 de março de 2008

Longe


pater, si uis, transfer calicem istem a me.
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Pai, se o quiseres, afasta para longe de mim este Cálice. Eu não quero provar do teu veneno. Eu estou cansado, mesmo que ainda longe do Calvário. Minha uia crucis não desponta, mas não sou tão forte quanto o Filho de um Homem. Ainda sou humano, ainda peco, ainda sonho, ainda desejo. Ainda sou um menino, e quem é que vai ouvir minhas preces? Em que receptáculo repousarão minhas lágrimas?
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As coisas sempre são mais simples do que imagina-se. Problemas tem solução. Tudo é fácil. Tudo é fácil quando o cravo não lacera-lhe a carne. Tudo é simples quando o momento não se transforma numa Apoteóse, um Universo infinito de sombra e pessimismo. E, ainda que dure por um segundo, é por toda uma eternidade. Afinal, quem é que conta os minutos para a alma? Quem é que ampara um coração que se propõe, assim, inocentemente altruísta??
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Não é do repouso que descansa minha mente. Não é da felicidade que se compadece meu espírito. Falta-me a base, minha própria. Apenas o chão, aquele que não sedimentei quando, vorazmente, subi as Torres de uma certa maturidade. Não é de se levar a sério, afinal, uma explosão de choramingos tolos. Que são eles, senão, esta própria estrutura de força e coragem tentando, timidamente, descansar do peso titânico que suportam?
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Não há problema. Tudo está bem. Ainda que as palavras sejam ásperas, tudo está bem. Ainda que a Coroa de Espinhos perfure fundo, tudo está bem...
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Ainda que o ar me falte...
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tudo está bem.

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